12/01/2015

Cristiano Ronaldo: o português Tri Bola d’Ouro

Se o ano passado ainda houve celeuma quanto ao eventual vencedor da FIFA Ballon d’Or, este ano penso que poucas dúvidas restavam. Aliás, segundo os dados apurados através da votação, a diferença para o segundo classificado (Lionel Messi) aumentou de 3,27% para 21,9%; falamos de uma diferença de 18,63 pontos percentuais. Esclarecedor!

Imagem: Cristiano Ronaldo, FIFA Ballon d'Or 2014 (fonte: www.facebook.com).

De facto, Cristiano Ronaldo teve um ano 2014 fantástico, individual (61 golos em 60 jogos) e coletivamente (UEFA Champions League, Supertaça Europeia, Taça do Rei e Mundial de Clubes), apenas pecando por não conquistar o título espanhol e não ter chegado mais longe, com a seleção portuguesa, no Mundial 2014 do Brasil.  

De entre os imensos golos que apontou, houve um em particular que ainda ressoa na minha memória:


O modo como acelera para o defensor, a velocidade com que realiza o drible para o desequilibrar e a qualidade do remate com o seu pé não dominante traduzem na íntegra o talento, o potencial atlético e a capacidade volitiva que, cumulativamente, fazem de Cristiano Ronaldo um jogador absolutamente soberbo.

O ano passado, por esta altura, questionei para quando teríamos outro jogador português a vencer duas vezes a Bola d’ Ouro da FIFA. Desta feita, não incorro no risco de assumir cenários utópicos. O melhor jogador português de sempre já é Cristiano Ronaldo e não acredito que surja outro capaz de o superar.

O tempo assim o justificará.

02/01/2015

Alex Ferguson – A minha autobiografia (2014)

Sir Alex Ferguson dispensa apresentações. O manager mais bem-sucedido da história do Manchester United FC publicou a sua autobiografia, no Reino Unido, corria o ano de 2013. Em março de 2014 foi lançada a versão portuguesa, pela editora Casa das Letras.

Imagem: Capa de «Alex Fergunson - A minha autobiografia.»

Gosto de ler autobiografias, nomeadamente, porque posso sempre aprender alguma coisa com as experiências/vivências que nelas surgem retratadas. Por exemplo, Sir Alex alega que:

As origens nunca podem ser uma barreira ao sucesso. Um modesto início de vida pode ser mais uma ajuda do que estorvo. Se examinarem com atenção alguém bem-sucedido, estudarem os seus pais, aquilo que eles faziam, debrucem-se sobre energia e motivação. Terem vindo de classes trabalhadoras nunca foi entrave para muitos dos meus melhores jogadores. Pelo contrário, foi muitas vezes a razão da sua excelência.
(p. 28)

Acerca do português Carlos Queiroz, que foi seu adjunto no clube, Sir Alex tece rasgados elogios:

Carlos Queiroz, outro dos meus números dois, era brilhante. Simplesmente brilhante. Excecional! Um homem inteligente e meticuloso.(…) Foi o mais perto que esteve de ser treinador do Manchester United sem verdadeiramente exercer o cargo. Tomou a responsabilidade por uma série de assuntos sem que fosse obrigado a isso por via das suas funções.
(p. 53-54)

Qual foi a chave do sucesso de Ferguson e do clube?

O que fizemos sempre, tanto no sucesso como na adversidade, foi assegurar-nos que o campo de treinos era sagrado. O trabalho, a concentração e os níveis de qualidade que aí mantivemos nunca foram atraiçoados.
(p. 64-65)

A propósito da superestrela David Beckham, uma outra grande lição para qualquer treinador, de qualquer nível, em qualquer clube:

Costumava dizer: «No momento em que o treinador perder a sua autoridade, deixa de ter um clube. Os jogadores passam a dirigi-lo e estás metido em sarilhos.»
(p. 76)

Um outro português que marcou imenso Sir Alex foi Cristiano Ronaldo. Confiram um brevíssimo testemunho:

Cristiano Ronaldo foi o jogador mais dotado que treinei. Ultrapassou todos os outros grandes jogadores com os quais trabalhei no United. E foram muitos.
(p. 115)

Numa legenda de uma imagem em que Cristiano Ronaldo aparece a trabalhar pontapés livres, com Carlos Queiroz por perto, Sir Alex confessa ainda que:

Ronaldo era um aluno exemplar. Carlos Queiroz teve um papel importante no seu crescimento.
(p. 160-161)

Curiosamente, há um capítulo dedicado a José Mourinho: o rival «especial». Quando José Mourinho chega a Inglaterra, proveniente do FC Porto, Sir Alex não ficou indiferente:

Uma voz interior avisou-me: há um rapaz novo no bairro. Jovem. Nem pensar em discutir com ele. Nem pensar em combatê-lo. Tem a inteligência e a confiança para lidar com o cargo de treinador do Chelsea.
(p. 166)

Por vezes, quando perdemos, dizemos e/ou fazemos coisas estúpidas. A raiva, a desilusão, levam-nos por caminhos pouco humanos, por assim dizer. Ao longo dos anos, Ferguson foi desenvolvendo uma estratégia para lidar com a amargura da derrota:

No final, eu tinha um remédio para as derrotas. Depois de dizer o que era preciso no balneário, antes de sair para enfrentar a imprensa, a televisão, para falar com os outros treinadores, murmurava para comigo: «O jogo acabou. Esquece.» Fazia sempre isso.
(p. 187)

Um fator que considero ser essencial na relação treinador-jogador é a comunicação. É preciso dialogar com os jogadores e saber incluí-los no processo, estabelecer consensos, alcançar soluções válidas e práticas para ambas as partes. Sir Alex Ferguson trata o tema como «psicologia»:

Em primeiro lugar, devemos dizer-lhes a verdade. Não há nada de mal em confrontarmos um jogador com a sua baixa de forma. E o que transmitia a alguém cuja confiança se revelasse abalada era que estávamos no Manchester United e não podíamos permitir-nos descer ao nível das outras equipas. (…) Criticar, sim, mas contrabalançar com um encorajamento. «Que andas a fazer? És melhor do que isso!»
(p. 247)

Qual foi o melhor adversário do Manchester United de Sir Alex Ferguson?

O Barcelona foi a melhor equipa que jamais defrontou qualquer das minhas formações do Manchester United. De longe a melhor. Trouxeram para o futebol a mentalidade certa. (…) No Barcelona tinham esses maravilhosos gnomos, de 1,65 metros de altura, com coragem de leão, que não largavam a bola e nunca se deixavam intimidar. A forma como Lionel Messi, Xavi e Andrés Iniesta se entendiam fascinava-me.
(p. 254)

Que conselho deixa para quem almeja ser treinador de futebol?

O meu conselho para todos os jovens técnicos é o de se prepararem a fundo. Comecem cedo. Não esperem pelos 40 anos para ganhar os galões de treinador. Oponho-me totalmente aos técnicos-relâmpago. É uma vergonha!
(p. 307)

Acima de tudo, um relato honesto e autêntico sobre uma história de sucesso num grande clube inglês. A longevidade de Alex Ferguson no cargo não pode ser desvalorizada, nem tão pouco a mentalidade que esteve subjacente a tantos títulos. À medida que vamos folheando o livro, vão-se revelando inúmeros pormenores interessantíssimos, nem sempre versando mares de rosas. Para quem, como eu, é um apaixonado do mundo do futebol, é quase de leitura obrigatória.


PS. – Um bom ano de 2015 para todos vós!