25/08/2014

Barba ensopada de sangue (2012)

Romance escrito por Daniel Galera, um autor brasileiro que não conhecia. O personagem principal é um professor de educação física e treinador de triatlo que procura refúgio em Garopaba, uma cidade balnear de Santa Catarina, após o suicídio do pai.

Imagem: Capa do livro «Barba ensopada de Sangue».

Curiosamente, o seu nome nunca é mencionado no texto, porém, o amigo Bonobo faz questão de o tratar por «nadador». Esta figura procura afastar-se da família, do contexto onde cresceu, para encontrar a sua felicidade ou, pelo menos, motivos que atribuam significado à sua existência. Decide-se a partir para Garopaba, com a cadela do pai Beta, acossado pela história do avô paterno que, presumivelmente, teria sido assassinado nessa localidade nos anos 60 do século XX. No intuito de entender o que aconteceu ao seu avô, acaba por se ir descobrindo a si mesmo. A autoconsciência, a autocrítica e a autodescoberta acompanham-no ao longo de inúmeros episódios pitorescos.

Tu não tá feliz ainda, ô desgraçado?
Posso levar a minha cachorra agora?
Dá o cachorro pra ele, pelo amor de Deus, diz o bigodudo do balcão.
O cachorro é meu, diz o nativo.
Então quero saber se tu é homem pra brigar sem a ajuda das tuas namoradinhas aí.
Quê?

Desconhecia o livro e o autor, mas jamais ficarei arrependido de os ter lido. Notável!

19/08/2014

A sequência ofensiva (coletivo) e a diferença do génio (individual)

O Chelsea FC estreou-se na FA Premier League 2014/2015 com uma vitória (1-3), no terreno do Burnley. Só pelo minuto 20, os 93 minutos da partida valeram a pena.


A sequência ofensiva que dá origem ao golo de André Schürrle apresentou as seguintes características:
· Duração: 50s
· Número de passes: 23
· Número de toques sobre a bola: 54
· Número de jogadores envolvidos: 9
· «O» momento: A assistência de Francesc Fàbregas (20:41) para o golo

A jogada em si é fabulosa; um magnífico exemplo de como o ataque posicional deve ser utilizado para quebrar uma organização defensiva que prima pelo princípio da concentração em bloco baixo. Há inúmeros instantes desta sequência ofensiva em que o Burnley tem os 11 jogadores atrás da linha da bola. O Chelsea foi paciente, promoveu uma circulação rápida da bola, explorou os dois corredores laterais (deu largura ao jogo) e os seus jogadores não se coibiram de executar permutas posicionais para dar soluções ao portador da bola. Depois, há o passe magistral de Fàbregas e que marca a diferença entre o obter ou não obter sucesso no ataque. Um génio é isto mesmo: fazer o que poucos fazem, demonstrando criatividade e virtuosismo associados a uma eficácia tremenda.

Imagem: O génio Fàbregas frente ao Burnley (fonte: www.news.nom.co).

Maravilhoso!

11/08/2014

A influência do tipo/estado do terreno na intensidade do jogo de futebol

Nos meandros do treino de futebol há, entre treinadores, jogadores e dirigentes, um conjunto de crenças que, atendendo à sua longevidade, assumem quase contornos de verdades inquestionáveis. O tipo/estado do terreno de jogo é uma problemática frequentemente debatida, sobretudo na classe dos treinadores, que, regra geral, proclama seguinte:

·  Regar o relvado, seja natural ou sintético, tende a tornar o jogo mais rápido e a aumentar a intensidade do esforço;
·  Deixar a relva crescer muito determina que a bola prenda, proporcionando um jogo mais lento e, supostamente, uma menor intensidade de esforço dos jogadores;
·  Em terra batida, a bola ressalta imenso, dificulta a receção, a condução e o passe e, consequentemente, implica ritmos de jogo e intensidades mais baixas.

Figura. Tipos de terreno de jogo no futebol.

Mesmo que estas perceções façam algum sentido, podem ser consideradas como factos?

Atentemos a dois estudos que foram realizados neste âmbito por Andersson e colaboradores (2008) e Tessitore e colaboradores (2012). No trabalho de Andersson et al. (2008), publicado no Journal of Sports Sciences, surgiu a preocupação de perceber se jogadores de elite suecos apresentavam diferenças nos padrões de movimento, nas habilidades com bola e na impressão subjetiva, atuando em relvados artificiais (sintéticos) ou em relvados naturais. Eis os resultados:

Tabela. Perfil de rendimento relvado em artificial vs. relvado natural.
(Andersson et al., 2008; p.f., clique para ampliar)

De uma forma geral, os valores obtidos foram similares, excetuando nos carrinhos (mais frequentes nos relvados naturais) e nos passes curtos (mais habituais nos relvados artificiais). A impressão dos jogadores revelou que acham mais difícil controlar a bola nos relvados artificiais e que estes induzem maior esforço físico. A impressão global revelou-se mais favorável ao jogo em relvados naturais.

Por seu turno, o italiano Tessitore e os seus colaboradores procuraram perceber se, em crianças Sub-9 (Traquinas), o tipo de terreno de jogo influenciava as respostas fisiológicas, expressas através da frequência cardíaca (FC), e as ações técnico-táticas executadas. A investigação foi conduzida em situação de jogo oficial, cujo formato é o F5 (Gr+4v4+Gr, 45x25m), em dois períodos de 15 minutos. Foram analisados 6 jogos do campeonato italiano «Pulcini».

O estudo demonstrou que as respostas fisiológicas (FC) e os padrões de movimento técnico-tático são similares entre a terra batida e o relvado sintético (sem diferenças significativas). Além disso, neste escalão etário, dois períodos de 15 minutos parecem ser adequados para replicar a intensidade de jogo e a natureza intermitente observadas no futebol sénior.

De acordo com as investigações consultadas, podemos concluir que, na maioria das variáveis em análise, os resultados obtidos não foram significativamente distintos em função do tipo de terreno de jogo. No entanto, é crível que diferentes estados do mesmo piso (e.g., encharcado, seco ou húmido) possam influenciar o estilo de jogo adotado pelas equipas. Da breve pesquisa que efetuei, não encontrei nenhum estudo que tenha investigado esta questão. Não havendo ainda dados disponíveis, sugiro que duvidemos das perceções subjetivas que estão, de certo modo, instituídas na modalidade, até porque «verdades inquestionáveis», nos dias que hoje correm, são cada vez mais raras e efémeras.

Referências
Andersson, H., Ekblom, B., & Krustrup, P: (2008). Elite football on artificial turf versus natural grass: Movement patterns technical standards, and player impressions. Journal of Sports Sciences, 26(2), 113-122.
Tessitore, A., Perroni, F., Meeusen, R., Cortis, C., Lupo, C., & Capranica, L. (2012). Heart rate responses and technical-tactical aspects of official 5-a-side youth soccer matches played on clay and artificial turf. Journal of Strength and Conditioning Research, 26(1), 106-112.

07/08/2014

Economia e Alimentação: duas faces da mesma moeda

O povo diz que «Deus distribui o mal pelas aldeias». Talvez a nossa faceta divina ficasse mais saciada com uma distribuição mais equitativa dos recursos, porém, os factos comprovam que a economia mundial é mesmo como a alimentação: para uns serem gordos, outros têm de passar fome.

Imagem: A distribuição dos recursos pelos seres humanos.
( fonte: danieljmitchell.wordpress.com )