28/01/2014

SICAL - «Na origem de um novo autor»

Um dia murcho de inverno. Esmorecido, como a «nevrinha» que teimava em cair, pedi um café. Comigo trouxe uma pequena lembrança:

Imagem: Nova coleção de pacotes de açúcar da SICAL ("Ecos da Loucura", um dos microcontos vencedores). 

Não mais voltei em mim.

26/01/2014

No «sul do mundo» de Luis Sepúlveda

Para o escritor chileno Luis Sepúlveda – um dos meus escritores preferidos – o «sul do mundo» fica na Patagónia. As suas viagens a este canto do globo deram origem a crónicas; da gaveta, as crónicas fizeram-se em livro, pelo menos, assim é narrado no Patagónia Express (Porto Editora, 2011). No meio do nada, ou no centro de tudo, «uma pessoa é de onde melhor se sente».

Imagem: A Patagónia na América do Sul (fonte: www.snegaiv.com).

Os livros, as crónicas, as dissertações de Luis Sepúlveda fazem-me sentir melhor. Sejam as palavras humor, saudade, política, cultura, tragédia ou felicidade, emanam o elevado sentido de humanidade do autor. Se bem escrever é sinónimo de saber colocar em texto as histórias, os segredos, as experiências, as valências e os defeitos que nos caracterizam enquanto seres humanos, então Luis Sepúlveda fá-lo com uma clareza notável:

– Boa tarde – cumprimentei.
– Isso é indiscutível. O que deseja, mister?
– Preciso de voar para Coca. Pode dizer-me o que tenho de fazer?
– Com certeza. Para voar basta agitar os braços, correr para ganhar balanço e encolher as patas. Mais alguma coisa?
(in Patagónia Express, 2011: 138)

Honestamente, sugiro-vos: leiam-no.

13/01/2014

Cristiano Ronaldo: O primeiro «bis» português na Bola de Ouro da FIFA

Oito dias após o falecimento de uma figura de proa do futebol português – o «pantera negra» Eusébio da Silva Ferreira – temos o primeiro craque deste país à beira-mar plantado a ser consagrado, pela segunda vez, com a distinção FIFA Ballon d’Or (Bola de Ouro da FIFA). Ele é Cristiano Ronaldo, ele é o FIFA World Player of the 2013, isto depois de já ter recebido o troféu homólogo em 2008.

Imagem: Cristiano Ronaldo, o Ballon d'Or de 2013 (fonte: showdebola.pt).

O “rei” Eusébio venceu em 1965, o “génio” Figo em 2000 e o “comandante” Cristiano Ronaldo inaugura o “bis” na bola de ouro para Portugal. Superou a concorrência do argentino Lionel Messi e do francês Franck Ribéry porque, de facto, foi o melhor jogador no ano transato. Se a campanha do Real Madrid esteve longe de satisfazer as expectativas dos adeptos, Cristiano Ronaldo mostrou que, mesmo num coletivo “frouxo”, consegue destacar-se e alcançar números impressionantes. Porém, nem só de golos vive o atacante português.

É um jogador talhado para desequilibrar o processo defensivo adversário. Quantos jogadores têm a sua velocidade (com e sem bola)? Quantos jogadores tratam a bola (dimensão técnica) como Cristiano Ronaldo? Nos tempos mais recentes, ao que não estará alheio o trabalho com José Mourinho e Carlo Ancelotti, tornou-se um jogador mais imprevisível, pois tanto pode servir o “coletivo”, como, individualmente, resolver os problemas contextuais do jogo. Os resumos mostram-nos os golos, mas Cristiano melhorou imenso a sua competência tática. Defensivamente, isso também foi e é evidente.

Esta evolução na dimensão tática aliada ao seu estrondoso potencial atlético, ao seu brilhantismo técnico e à sua enorme capacidade de finalização, faz de Cristiano Ronaldo um jogador altamente decisivo entre a elite do futebol mundial. Os contextos podem ser distintos, mas ele adapta-se, aparece e resolve. No ano de 2013 houve muito de fantástico de Cristiano Ronaldo. Mil e um vídeos poderiam ilustrar a sua qualidade; eu escolhi deixar-vos um pormenor delicioso do atual “melhor do mundo”:


No próximo mês fará 29 anos e tem francas possibilidades de ir ainda mais além. Apesar disso, não posso deixar de me questionar: daqui a quantos anos teremos outro jogador português a vencer duas vezes a Bola de Ouro da FIFA?

09/01/2014

O tempo adicional no futebol

O tempo adicional, tempo de descontos ou tempo de compensação (estas últimas expressões são frequentemente relatadas nos meandros do futebol) consiste no tempo que é concedido pelo árbitro principal da partida, no final do tempo regulamentar (45 ou 90 minutos), a fim de contrabalançar os períodos nos quais o jogo esteve efetivamente interrompido (lesões, substituições, atrasos nas reposições da bola em jogo, etc.).

Imagem: Tempo adicional no futebol (fonte: refnews.wordpress.com).

Para quem se encontra em vantagem, o tempo adicional dado pelo árbitro é usualmente um exagero; ao invés, para quem se encontra a perder, a compensação tende a ser curta. Os interesses e as necessidades dos indivíduos condicionam bastante a perceção subjetiva do tempo que deve constar na placa. A meu ver, isso parece-me perfeitamente natural. Já o mesmo não pode ser afirmado relativamente ao elemento que deveria ser o mais imparcial do encontro: o árbitro. Será que o tempo adicional concedido pelo árbitro é correto? Se não, tenderão estes a pecar por excesso ou por defeito?

Estas foram as questões colocadas pelos investigadores alemães Malte Siegler e René Prüßner, da Universidade Técnica de Munique e cujos resultados foram publicados, no passado mês de dezembro, no International Journal of Performance Analysis in Sport. De resto, estes autores analisaram o tempo adicional concedido pelos árbitros no final de todos jogos (n = 31) que ocorreram no Campeonato Europeu de seleções, em 2012, na Polónia e na Ucrânia. Para o efeito, criaram um sistema de observação com o propósito de registar a duração e o número de ocorrências do que designaram ser as «interrupções relevantes do jogo». 

Foram registadas 196 interrupções relevantes com uma duração média de 261.3 s (± 86.5) por jogo (i.e., cerca de 4 minutos e 21 segundos). O tempo adicional médio por jogo foi de 218.1 s (± 50.0), ou seja, 3 minutos e 38 segundos. Os investigadores revelaram que, em 51% dos jogos da amostra, o tempo adicional foi demasiado curto, embora o resultado da partida não tenha sido significativamente influenciado pelo fenómeno.

Imagem: O tempo adicional e a controvérsia que gera (fonte: miltonribeirocoach.blogspot.pt).

Portanto, os resultados deste estudo são conclusivos: beneficia-se quem está em vantagem ou quem se encontra mais satisfeito com o marcador e que, por norma, tende a “queimar” tempo e a adotar um estilo de jogo mais defensivo. A bem do espetáculo que é (ou deveria ser) o futebol, é de todo recomendado que as altas instâncias da modalidade (FIFA, UEFA, etc.) e os árbitros pensem em melhorar os métodos de cálculo da quantidade de tempo que deve ser adicionada, findo o tempo regulamentar do jogo.

Referência
Siegle, M. & Prüßner, R. (2013). Additional time in soccer. International Journal of Performance Analysis in Sport, 13(3), 716-723.

05/01/2014

Eusébio partiu, mas o seu legado perdurará

O primeiro texto de 2014 é uma curta homenagem a Eusébio. O dia 5 de janeiro de 2014 é marcado pelo seu falecimento, porém, o legado que deixa no futebol português perdurará por longas décadas. O seu contributo foi fundamental para que o nome do Sport Lisboa e Benfica se erguesse no panorama europeu e para que Portugal constasse no mapa do futebol mundial. No que diz respeito a esta modalidade desportiva, o que o «pantera negra» fez está apenas ao alcance de predestinados, de génios.

Imagem: A estátua de Eusébio por Vasco Duarte (fonte: olhares.sapo.pt).

Não tive oportunidade de o ver jogar (ao vivo), mas fica para a posterioridade alguns dos seus números:

· 638 golos em 614 jogos oficiais (média de 1,04 golos/jogo);
· Ganhou 11 Campeonatos Nacionais (1960-61, 1962-63, 1963-64, 1964-65, 1966-67, 1967-68, 1968-69, 1970-71, 1971-72, 1972-73 e 1974-75);
· Conquistou 5 Taças de Portugal (1961-62, 1963-64, 1968-69, 1969-70 e 1971-72);
· Venceu 1 Taça dos Campeões Europeus (1961-62);
· 3 vezes finalista vencido na Taça dos Campeões Europeus (1962-63, 1964-65 e 1967-68);
· 3 vezes melhor marcador da Taça dos Campeões Europeus (1965, 1966 e 1968);
· 7 Bolas de Prata (record nacional) em 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1970 e 1973;
· 2 Botas de Ouro (1968 e 1973);
· 1 Bola de Ouro (1965).

Tão impressionante como observar algumas das suas jogadas e os seus golos:


Até sempre, Eusébio!