29/03/2013

Journal of Human Kinetics (Vol. 36) | Sequências ofensivas no futebol juvenil: Efeitos da experiência e de jogos reduzidos

Algures entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, o professor João Barreiros teve o condão de despertar a minha curiosidade para a investigação. Nas suas aulas de Metodologia de Investigação Científica, frisou que fazer um estudo para permanecer na biblioteca da faculdade, junto a tantas outras teses de mestrado e doutoramento, seria um investimento desperdiçado, em termos de recursos temporais, financeiros e humanos. O garante de qualidade e o respetivo retorno viriam com a publicação numa revista científica nacional ou, se possível, internacional. Naquele momento, das palavras do professor depreendeu-se um desafio a todos os alunos. Um bom desafio, pensei. 

Por ser a primeiro trabalho do género, demorou imenso a concluí-lo. Longe de ser um mar de rosas, fomos superando as sucessivas adversidades com que nos deparámos. Refiro-me na primeira pessoa do plural, porque foi um processo coletivo; estou certo que sozinho não teria sido possível. Entre submissões fracassadas, revisões, críticas, por vezes injustas, sugestões e reformulações, o conteúdo foi progressivamente melhorando. Fomos colhendo alguns frutos pelo caminho: um poster no World Congress on Science and Football (Japão, 2011), dois resumos nos Books of Abstracts do World Congress on Science and Football (2011) e do 16th Annual Congress of the European College of Sport Science (Liverpool, 2011) e um capítulo no livro Science and Football VII (2013). 

Agora, finalmente, é publicado o artigo integral no Journal of Human Kinetics. A cereja no topo do bolo, presente no volume 36 (março de 2013), secção III – “Sports Training”, deste periódico. Um paper que partilho com os coautores António Paulo Ferreira e Anna Volossovitch, professores da Faculdade de Motricidade Humana – Universidade Técnica de Lisboa, e cujo contributo foi inexcedível e precioso, durante mais de três anos. Como vem sendo habitual, assinalo a ocasião no Linha de Passe, deixando-vos o resumo (abstract) do artigo "Offensive sequences in youth soccer: Effects of experience and small-sided games" e o link através do qual poderão aceder, gratuitamente, à versão oficial da revista (ver referência).
 

Abstract 
The present study aimed to analyze the interaction and main effects of deliberate practice experience and small-sided game format (3 vs. 3 and 6 vs. 6 plus goalkeepers) on the offensive performance of young soccer players. Twenty-eight U-15 male players were divided into 2 groups according to their deliberate practice experience in soccer (i.e., years of experience in federation soccer): Non-Experienced (age: 12.84 ± 0.63 years) and Experienced (age: 12.91 ± 0.59 years; experience: 3.93 ± 1.00 years). The experimental protocol consisted of 3 independent sessions separated by one-week intervals. In each session both groups performed each small-sided game during 10 minutes interspersed with 5 minutes of passive recovery. To characterize the recorded offensive sequences we used the Offensive Sequences Characterization System, which includes performance indicators previous applied in other studies. No interaction effects on the offensive performance were found between both factors. Non-parametric MANOVA revealed that the factor “experience level” had a significant effect (p<0.05) on performance indicators that characterize the development of offensive sequences, especially in 6 vs. 6 + GKs. While experienced players produced longer offensive sequences with greater ball circulation between them, the non-experienced participants performed faster offensive sequences with a predominance of individual actions. Furthermore, significant differences were observed (p<0.05) in the development and finalization of offensive sequences within each group, when comparing small-sided game formats. Evidence supports that small-sided games can serve several purposes as specific means of training. However, the manipulation of game format should always consider the players’ individual constraints.

Key words: association football, constraints-led approach, performance, skill acquisition. 

Reference 
Almeida, C. H., Ferreira, A. P., & Volossovitch, A. (2013). Offensive sequences in youth soccer: Effects of experience and small-sided games. Journal of Human Kinetics, 36, 97-106. (pdf) 

Não podia deixar de endereçar a minha profunda gratidão aos professores, colaboradores, participantes, revisores, responsáveis pelas entidades envolvidas (Juventude Desportiva Monchiquense e Escola Básica 2,3 de Monchique) por, direta ou indiretamente, contribuírem para o produto final. 
 
Custou, durou, porém, a persistência e o esforço prevaleceram.

27/03/2013

A síndrome de Osgood-Schlatter no jovem atleta

Os benefícios decorrentes da prática de atividade desportiva desde idades jovens são bem conhecidos. Associado à atividade regular de uma dada modalidade desportiva, há, porém, um risco aumentado de lesão. Nos últimos três/quatro anos, enquanto treinador de futebol, tenho-me deparado com um número crescente de casos de jovens pré-adolescentes e adolescentes com fortes dores no(s) joelho(s) que, frequentemente, causam incapacidade e forçam os miúdos a parar.

O diagnóstico é quase sempre o mesmo: síndrome de Osgood-Schlatter. Trata-se de uma doença osteomuscular (e extra-articular) comum em adolescentes, predominantemente do género masculino, entre os 10 e os 15 anos. Embora a incidência seja menor, nas raparigas os casos tendem a suceder entre os 8 e os 13 anos e é crível que as diferenças para o género masculino diminuam à medida que aumenta o envolvimento das raparigas no desporto. De acordo com o recente artigo de revisão de Domingues (2013), este tipo de lesão afeta 1 em cada 5 adolescentes.
 
Basicamente, esta síndrome é caraterizada pela existência de uma espécie de nódulos dolorosos imediatamente abaixo do joelho, mais propriamente na inserção do tendão patelar (ou rotuliano), isto é, na tuberosidade anterior da tíbia. O stress mecânico provocado pelo tendão patelar, resultante da atividade contrátil do quadricípite, promove a separação parcial de fragmentos ósseos da tuberosidade anterior da tíbia e, consequentemente, ossículos dolorosos.
 
Imagem: Radiografia de um caso de Osgood-Schlatter (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_Osgood-Schlatter).

Não é por acaso que a síndrome de Osgood-Schlatter acontece no período da vida acima mencionado. Durante a fase de desenvolvimento músculo-esquelético, as cartilagens de crescimento do osso – placas epifisárias – são muito mais vulneráveis à tensão mecânica induzida pela atividade contrátil dos músculos. Daí que, por exemplo, o treino regular de alta intensidade (corrida, saltos e outras ações dos membros inferiores) e o excesso de peso constituam fatores de risco inerentes ao surgimento da lesão. O futebol, o basquetebol, o voleibol e o atletismo são algumas das modalidades desportivas em que incidência de Osgood-Schlatter é mais referenciada (Domingues, 2013).

No cômputo geral, a dor no joelho cessa no final do período abrupto de crescimento (dura, aproximadamente, 2 anos) e as consequências de longo-prazo tendem a ser otimistas para a maioria dos jovens. A síndrome de Osgood-Schlatter é, portanto, temporalmente limitada e é expectável que ocorra uma recuperação completa com o “fechar” da placa de crescimento tibial. O tratamento deve incluir exercícios de terapia funcional com a expansão da musculatura isquiotibial, que é preferível relativamente à imobilização da articulação. Segundo Domingues (2013), esta medida é recomendada mesmo que ocorra a formação de ossículos que, no entanto, apenas se observam em 20-25% de todos os casos de Osgood-Schlatter. Em última instância, a cirurgia para remover os nódulos ósseos pode ser uma opção, mas apenas quando as medidas terapêuticas convencionais não são suficientes.
 
Os treinadores desportivos podem tomar algumas precauções para prevenir ou condicionar o aparecimento da lesão. A literatura é consensual acerca da prescrição regular de exercícios de alongamento muscular. Um bom aquecimento prévio da musculatura da coxa (quadricípites e isquiotibiais) e da articulação do joelho pode, também, minimizar os efeitos das ações locomotoras e específicas da modalidade desportiva na placa epifisária da tíbia. Crianças/jovens com excesso de peso devem ser encorajados a perder massa corporal e, por último, os jovens devem evitar realizar atividades/exercícios com cargas exageradas e que proporcionem um stress excessivo no tendão patelar (Domingues, 2013).

Referências
Domingues, M. (2013). Osgood Schlatter’s disease - A burst in young football players. Montenegrin Journal of Sports Sciences and Medicine, 2(1), 23-27.
Wikipédia (n. d.). Síndrome de Osgood-Schlatter. Retrieved March 27, 2013, from http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_Osgood-Schlatter

19/03/2013

Science and Football VII

O livro Science and Football VII: The Proceedings of the Seventh World Congress on Science and Football está prestes a ser publicado pela editora Routlegde, do grupo Taylor & Francis. O lançamento está previsto para o próximo dia 29 de março.
 
 
Basicamente, é uma obra com enfoque na mais recente investigação científica numa variedade de desportos associados ao termo “football” (i.e. futebol), incluindo o futebol, o futebol americano, o futebol australiano, o futebol gaélico e o râguebi. Com o objetivo de estreitar a brecha entre a teoria e a prática, o livro contém uma série de artigos anteriormente apresentados no sétimo Congresso Mundial de Ciência e Futebol, realizado em maio de 2011, em Nagoya, Japão. É, portanto, uma ferramenta importante para todos os investigadores de ciências do desporto, treinadores, professores, psicólogos e outros profissionais que trabalham nestes códigos do futebol.
 
A título pessoal, é mais um volume que irei adicionar à minha biblioteca. Não apenas pela sua relevância científica e formativa, mas também porque, pela primeira vez, incluirá um capítulo em que sou coautor. Na sétima parte do livro – Training Science, Coaching and Psychology – podemos encontrar o capítulo 64: Offensive sequences in youth soccer: Experience and small-sided games effects. Este artigo resulta da minha tese de mestrado e é, neste âmbito, publicado com o precioso contributo dos professores António Paulo Ferreira, Anna Volossovitch e Ricardo Duarte, da Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa.
 
Referência
Almeida, C. H., Ferreira, A. P., Volossovitch, A., & Duarte, R. (2013). Offensive sequences in youth soccer: Experience and small-sided games effects. In H. Nunome, B. Drust, & B. Dawson (Eds.), Science and football VII: The proceedings of the seventh world congress on science and football (pp. 403-408). London: Routledge, Taylor & Francis Group.
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